domingo, março 05, 2006

Desabafo pra meter medo na molecada

Por Biba Bandeira*


É. Mais um ano letivo começa na UNIRIO. Mais uma safra de calouros, novinhos em folha. Alguns zero quilômetro, prontos para o test-drive. Provavelmente alguns devem estar assustados com toda a balbúrdia, com toda a expectativa que nós, os veteranos, colocamos neles. E ainda vão se assustar com muitas outras coisas que farão parte do cotidiano desses moleques daqui pra frente. Como a quantidade de textos, o dinheiro que gastarão na xerox, que não condiz nem um pouco com o serviço prestado. O sabor inenarrável do almoço na Cantina. A quantidade de palavras difíceis, em textos longos, às vezes surpreendentes e outras vezes daqueles que você acaba de ler e desconfia que está com as páginas trocadas. É. Alguns textos a gente não entende nada mesmo.
Os novatos se assustarão talvez com o frenesi pela cerveja gelada na birosca mais próxima, aliada a uma fidelidade pelo bar que alguns de nós mantemos. E acharão estranho como ainda dá pra fazer um monte de coisas enquanto isso. Talvez se surpreendam com os ataques de bobice e as brincadeiras infantis que fazemos, mesmo com uma pose “meio-intelectual, meio-de-esquerda” de uns, ou o ar acadêmico rigoroso de outros.
Alguns se espantarão com a falta de recursos, a dificuldade que se tem para conseguir apoio em certas circunstâncias. Provavelmente aqueles que provêm de escolas particulares serão os mais afetados com essa surpresa.
Verão também que existem pessoas que se esforçam, quase que à toa, pensando na faculdade, no curso. Eu disse quase que à toa porque para isso não há remuneração, não há glória, não há poder, não há nada. Escrever qualquer idiotice para circular nesse jornaleco, montar um evento de proporções restritas ou passar semanas angariando algum apoio qualquer com as instâncias superiores para conseguir ir a um evento. Chorar por uma resma de papel. Ficar mofando em salas pela Reitoria, em departamentos disso ou daquilo. Passar tardes na UNIRIO pra saber do que se passa, em reuniões em que muitos nem dão as caras. Os que já conhecem esse tipo de coisa devem estar se identificando e talvez soltando um suspiro de cansaço, afinal de contas o ano de 2005 não foi fácil para nenhum de nós. Os que observam de mais longe talvez pensem que isso se trata de alguma estratégia política ou a fim de angariar popularidade. Mas acreditem. Não é.
Gostaria de começar esse novo ano letivo com um desabafo, que tem múltiplas direções. Para os calouros que chegam agora interessados em saber um pouco sobre a experiência que eu tive aqui.
Na minha carteirinha da UNIRIO figura o número 20011362005. Isso significa que foi há cinco anos que eu cheguei na UNIRIO, tal como os calouros estão chegando hoje. Foi num dia 12 de março. Tive muitos conflitos em relação à carreira que devia seguir, como muitos de nós tivemos, e temos até hoje. Larguei Comunicação duas vezes. Não é fácil estudar História. Não. Alguns pais acham estranho, outros apóiam com ressalvas, e acreditem, há aqueles que tentam impedir. É um mercado, pelo pouquinho que começo a conhecer, bastante difícil. Não é fácil ser professor no Brasil. E ser intelectual num país onde não se tem o que comer parece, em alguns momentos, um absoluto despropósito. Tal como eu, dezenas de alunos que passaram e passam por aqui se questionam.
Mas o questionamento é a primeira parte da armadura que vestimos para enfrentar essa guerra, calouro amigo! Há um momento de “apaixonamento”, em que você simplesmente vai achar as aulas sensacionais. Há o momento de decepção, em que você pensará em sair correndo pela rampa abaixo e pegar o primeiro ônibus para a faculdade de Engenharia Mecatrônica (Importante: não estou de forma alguma desmerecendo os engenheiros) ou Direito (menos ainda, porque eles estão aqui pertinho!). Há um momento em que você poderá pensar que simplesmente “nasceu pra isso” e que se envolverá num amor tórrido pela História. Ou talvez isso não aconteça.
Alguns de vocês farão amizades profundas aqui. Como eu fiz. Algumas. Terão muitos companheiros de festinhas, bares, encontros, carnavais, cineminhas de domingo, raves e tudo o que vier à cabeça. Terão alguns amigos de verdade, que agüentarão você quando você enlouquecer, ou estiver bêbado que nem um gambá. Outros serão colegas de corredor, ou nem isso.
Vocês verão que a História te faz mais chato em alguns momentos, porque você fica crítico, às vezes demais. Porque você passa a ver sentidos obscuros em coisas que pareciam simples. Porque você se perde no meio de uma conversa ou de um texto bobo.
Eu queria sinceramente que vocês soubessem que esses últimos anos foram ótimos na minha vida.. Vocês devem estar se perguntando porque estou aqui abrindo meu coração num jornal de imensa circulação. É só porque eu quero dizer a todos que chegam aqui hoje que se deixem sentir embalados pela novidade, enfeitiçados pela História, conquistados pelo nosso curso, nossos alunos, professores, nosso clima. É por esse clima, por esse curso que eu, assim como muitos outros, quero que cresça, que eu me enrolo toda e acabo criando arranca-rabos homéricos com muita gente. É por isso que estamos nos esforçando, para que possamos apresentar a vocês um ambiente, e não só um curso universitário. Para que ano que vem (vai passar rápido e vocês se espantarão com isso) vocês tenham a mesma energia e o mesmo envolvimento com essa experiência. Tomara que vocês se apaixonem como eu me apaixonei.


* Aluna do último período, tentando se formar. Membro da Diretoria do Centro Acadêmico. Figurinha fácil em rodinhas de piada, cerveja e fofoca. Pode ser encontrada pela UNIRIO, em alguns corredores e (agora) quase nenhuma sala de aula.