segunda-feira, junho 25, 2007

Por Renata Saavedra


Um maço.
Há quanto tempo não fechava o rodopio da Terra com o maço que o desencadeou.
Há quanto, mesmo?
Não, não fazia tanto. Mas parecia muito.
E o último maço rotatório havia sido outra coisa. Um maço clássico, de iniciantes, um maço ansiolítico, com aquele gosto ocre de acendido com fósforo.
Esse era outro maço. E essa era outra rotação, também.
Um dia ruim?
Começado no escuro, com projetos desses de sempre, engatando a primeira no carro recém-lavado que enfrentou quilômetros de taxista. Taxista preguiçoso, mas taxista.
As ladainhas, os projetos desses de sempre não todos alcançados, a lista de tarefas diárias deixando resíduos para o depois. Resíduos desses de sempre.
Mas o maço desse último rodopio, comprado na loja de conveniências da Pasteur, era outro maço.
Não era de blaserismo, de agitação, de relaxamento.
Não era de alívio ou de nervosismo.
Era um maço de segunda-feira, de uma segunda-feira prazo e compromisso. De uma segunda-feira família e ladainha. De uma segunda-feira engarrafada e com motoristas ruins – nem todos são taxistas, mesmo preguiçosos. Um maço meio cansado até.
Um maço acendido na vela ao lado da lasanha, a vela desenhada no fundo do copo do último gole de vinho.
Um maço de cinzas no papel engordurado dos bolinhos fritos.
Um dia ruim?
Um dia diferente.
Esse era outro, outro maço.
Um Carlton verde de amor.